27 de mai. de 2010

De axé e outras coisas.

Eu sempre questionei a forma desrespeitosa como algumas pessoas resolvem ser alguma coisa que justifique a aquisição de uma identidade. O melhor exemplo é o comportamento de alguns ao afirmarem que praticam e/ou ensinam capoeira angola simplesmente pelo fato de terem feito uma oficina de final de semana com o mestre A ou B, independente do que ele, o mestre , signifique para o mundo da capoeira.
Deixei de preocupar-me ao analizar o que seria deles se, um dia, decidissem ser índio simplesmente por achar que assim conseguiriam um espaço em uma das várias reservas no Amazonas: travestido com um cocar, uma tanga e todos os estereótipos necessários para ser confundido com um índio. Com certeza estaria faltando alguma coisa cuja aquisição, o lugar onde consegui-la, só será de conhecimento de um índio de verdade.Na realidade, ele só conseguiria enganar aos seus iguais,ou seja: outros travestidos.
Contas no pescoço,contra-eguns comprados na feira ou qualquer outro elemento simbólico sem que tenha sido previamente revitalizado é só simbolo.Conforme Juana Elbein,em seu clássico "Os Nagôs e a Morte", "o axé trata-se de um poder que se recebe, se compartilha e se distribui através da prática ritual, da experiência mística e iniciática,durante a qual certos elementos simbólicos servem de veículo. è durante a iniciação que o axé do "terreiro" e dos orixás é plantado e transmitido às noviças".
Não basta dizer: AXÉ, tem que ter FÉ.

17 de mai. de 2010

BY ANY MEANS NECESSARY.

Armando,não só aos os meus alunos, mas a todos os praticantes de capoeira falta mais um pouco de responsabilidade com os princípios que fizeram desta arte um instrumento de luta do proletariado em um momento em que as dificuldades eram maiores mas, mesmo assim,estratégias foram utilizadas como luta de resistência para que nós ainda pudessemos ter a capoeira até hoje.Aproveitando o ensejo,responderia ao Omowale que a preocupação de muitos em não concordar com a necessidade da homologação de um mestre na titulação de um outro mestre ou contramestre faz parte de um movimento articulado dentro de um grupo que se auto intitulou, já está "reconhecido" por uma comunidade que já está à espera de um reconhecimento em breve.É um acordo de cavalheiros com o objetivo de tornar a capoeira uma manifestação acéfala e sem princípios.Quando se defendem com o argumento de que antigamente era a comunidade capoeirista quem reconhecia os mestres de capoeira, esquecem de que aquela comunidade tinha por características não andar com berimbau pelas ruas,não transitar fantasiados de capoeirista, nem resolviam os seus traumas nas rodas de capoeira, muito menos via internet.
A ninguém deve ser proibido tornar-se um mestre de capoeira desde que tenha a condição mínima para fazer pela capoeira o que fizeram os mestres mais antigos que muitos estão tentando depreciar.
Alex,a sua pergunta já está praticamente respondida acima.A capoeira já está sofrendo os efeitos da perversidade de uma globalização que tem, conforme o Prof. Milton Santos, como uma das suas regras o esgarçamento das particularidades tecidas ao longo de séculos.Ainda segundo ele,"Neste mundo globalizado[...]a confusão dos espíritos impede o nosso entendimento do mundo, do país, do lugar,da sociedade e de cada um de nós mesmos". Observe, Alex que os capoeiristas já estão vivendo essa situação.
Quanto à questão sobre os mestres Bimba e Atenilo, se foram angoleiros,sei que o mestre Bimba tem uma história na capoeira angola. Quanto ao mestre Atenilo, tenho informações que foi aluno do mestre Bimba desde 1929 quando ainda tinha 11 anos.
Sol,a tradição enquanto uma das referências da ancestralidade, deixa de ter valor diante de um projeto gigante e perigoso de negação dos princípios, alguns subjacentes, que contribuiram para a sobrevivência da capoeira.
Quanto à minha história no Rio de Janeiro, ela se confunde com a minha história quando retornei, em 1983, para Salvador.Já ouvi algumas pessoas dizerem que a capoeira angola tem dois momentos distintos: antes e depois do Mestre Moraes. Eu não generalizaria, mas muitos dos que estão por aí, travestidos de ideólogos, começaram a ter história na capoeira angola, no máximo, a partir de 1983.Muitos se tornaram angoleiros sem nuncater treinado tal estilo. Conheço todos eles, e é por isso que querem me calar.
Capoeira é a minha vida. Ela está para mim, como a água está para o peixe. Defenderei os seus princípios como o líder negro Malcomm X definia a sua luta pela povo negro americano, com o lema: BY ANY MEANS NECESSARY!

MESTRE MORAES.

6 de mai. de 2010

Ainda sobre o orgulho étnico

Armando,
como eu, outros professores tentam mudar a situação caótica em que se encontra a educação, em especial a pública, mas não temos apoio do governo. Costumo mostrar, como exemplo, o fato de não vermos nenhum parente, próximo ou distante,dos nossos administradores da educação estudando em escolas públicas.Leva-me à interpretação de que eles não querem viver o que é dispensado aos outros. Não por acaso, o público dessas instituições é, em sua maioria, de afrodescendentes.
Acredito que só através de um comportamento rebelde, rebeldia no sentido de resistência ao cerceamento de direitos, por parte dos professores e alunos, poderemos chegar a mudanças. Diante do que observamos, deixa a impressão que os diretores de escolas públicas, sem generalizações, são escolhidos para a funçao de preservação do status quo, ou seja: não tentar mudanças.
Concluindo, a escola deve ser o espaço onde o orgulho étinico do afrodescente seja estimulado, diferentemente do que lhes é mostrado em outros espaços sociais irresponsáveis.

Mestre Moraes.

5 de mai. de 2010

Capoeira angola e orgulho étnico.

Caro Vinicio,

vertentes da capoeira angola como História, Filosofia, Religiosidade, Ancestralidade e Musicalidade, dentre outras, levam-nos à reflexão sobre o legado africano que muito contribuiu com a formação da sociedade brasileira.O mestre de capoeira angola que tenha, além da condição técnica, a condição de contextualizar tal conhecimento com as várias vertentes citadas irá, com certeza, estimular nos seus alunos o interesse em saber mais do que jogar pernas para o ar.Claro que eu não exigiria tais conhecimentos de mestres mais antigos, mas não perdoo os mais novos.
Ser mestre de capoeira, hoje, significa a obrigação de estar antenado com fatos que podem contribuir com o entendimento dos seus alunos para o conceito do ser cidadão numa sociedade onde o preconceito continua afetando o afrodescendente incapaz de detectá-lo nas subjacências. Ao comentar sobre a história da escravidão estarei, naturalmente,falando de toda repressão pela qual passaram os capoeiristas, os praticantes das religiões de matriz africanas, os sambistas, etc.
Nesses bate-papos devemos desconstruir idéias eurocêntricas, preconceituosas, no que concerne à estética ou a inteligência do afrodescendente. Ledo engano acreditarmos que a Lei 10639 só deve ser aplicada nas salas de aulas, além de sabermos que poucas escolas estão aplicando a Lei.
A prática da capoeira angola não deve, de forma alguma, estar desconectada dessa interdisciplinaridade.

MESTRE MORAES

4 de mai. de 2010

Estarei de volta em breve.

Caros companheiros,

sei da ansiedade de alguns para saberem as novidades da capoeira. Quando eu dou uma parada é porque as atribulações não me dão um tempo para atender às suas ansiedades, mas posso adiantar que estou em busca desse tempo.
Pediria aos meus seguidores que escolhessem um tema dos seus interesses, concernente à capoeira, para que nós discutamos aqui nesse blog.

Vejo-os em breve,

Mestre Moraes.