3 de jan. de 2010

Releia, Glauber!!!

Ô Glauber,

1- O macaco a quem a música se refere é o negro escravizado na labuta do dia-a-dia, no Engenho, pilando o milho. Cheguei a colocar em negrito os termos: "como gente, macaco"

2-Quanto à segunda música, eu não propus mudança alguma. Se alguém fez isso foi você com o " Santo Antonio completô a marquinha(?) de Nòe (sic)".

Obrigado pela participação,

Moraes.

7 comentários:

  1. Rodrigo Chagas Campos5 de janeiro de 2010 às 20:28

    Boa Noite Mestre Moraes!Meu nome é Rodrigo Chagas, sou capoeira aqui de São Paulo, achei muito interessante essa discussão e gostaria de perguntar uma coisa.É sobre a música "quebra milho como gente, macaco", eu já escutei Mestre Ananias cantando ela assim "quebra lami comu gê, ê maca"(não sei como se escreve) e gostaria de saber se ambas tem o mesmo significado?
    E também mestre será que quando essas músicas foram criadas, o intuito era mesmo pejorar a imagem do negro?

    Obrigado pela atenção mestre!

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  2. Glauber "Eu Sou Angoleiro"8 de janeiro de 2010 às 11:16

    ô Mestre!
    Obrigado pela atenção e pelo apontamento da minha falta de atenção. Mas, Moraes, minha confusão com relação a este corrido tem a ver com as variações que já ouvi dele.
    Recentemente M. João Grande esteve em BH, cantou este corrido e corrigiu o coro. O certo não seria "São Antônio é protetô" e sim "S. Antônio completô a barquinha de Noé".
    No livro do M. Bola Sete está "S. Antônio consertou".
    Vi que você tem consigo que o certo é "protetô", e este também é o modo como meu grupo, "Eu Sou Angoleiro", canta.

    Mas e estas variações? Consideremos inclusive que quem propõe uma desta variações é M. João Grande, mestre importantíssimo para a capoeira angola e detentor de grande saber acerca da nossa dança-luta.
    Outra questão: ainda que seja "S. Antônio é protetor da barquinha de Noé", eu não captei o quê de preconceituoso está neste verso.

    Muito obrigado, Mestre!
    axé!

    Glauber
    glaubervp@yahoo.com.br

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  3. com o humilde respeito da palavra...
    Muito interessante discussão, uma vez q a tradição oral está diretamente ligada à musicalidade..
    Realmente a observação do glauber é curiosa, e tenho muito interesse em ver sua resposta mestre moraes..

    em consideração as palavras dos camaradas, lembrei q um capoerista q conheci q treinou com o mestre joão grande, uma vez me fez uma observação aos corridos e ladainhas q tratavam sobre a questão do genero feminino, como "ela tem dente de ouro foi eu quem mandei botar, vou roga-lhe uma praga pra esse dente se quebbrar"..e outras terminantemente proibidas como "me leva morena me leeva me leva pro seu bangalô"..com a explicação de q eram musicas q de alguma forma desrespeitavam as mulheres..

    -Gostaria de saber se o mestre moraes tbm compartilha com esse tipo de pensamento..como aborda a questão genero nas usas canções.

    De fato as canções q deprimem a nossa raça negra é nítida em algumas canções e me intriga como as pessoas reproduzem isso sem o menos senso crítico..e me espanta mais ainda ouvir mestres respeitados como o mestre ananias cantar: "nego nagô quando morre tem catinga de sariguê"..realmente não entendo, será alguma mensagem q eu na minha ignorancia não tenha atentado..

    parabens pelo centro de discussão virtual, estarei sempre por aqui, abraço a todos.
    ...ASÉ !!.

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  4. Leão,
    para endossar a discussão sobre gênero e capoeira, q tmb é de meu interesse - me nego a cantar, por exemplo, o samba de roda "se essa mulher fosse minha tirava da roda jájá, dava um surra nela e mandava o povo pegá ..." - indico o artigo "A Representação da Mulher nas Cantigas de Capoeira" de Maria Barbosa. ( link: http://74.125.47.132/search?q=cache:3Vk0mBzI1F8J:www.plcs.umassd.edu/docs/plcs1516/barbosajun162006.doc+representa%C3%A7%C3%A3o+mulher+capoeira&cd=1&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br&client=firefox-a )

    E concordo com vc e com o Mestre qdo propõem q precisamos ter senso crítico ao praticarmos a capoeira. Sempre há o risco de reproduzirmos aquilo q abominamos e lutamos contra por simples falta de reflexão crítica.
    abraço,
    Glauber

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  5. Caro Glauber,

    Nossa história não pode ser apagada. Deixar de cantar qualquer música tradicional da capoeira tentando dar qualquer interpretação para a mesma é um assassinato da própria. A arte deve ser respeitada e jamais manipulada. A tradição deve ser preservada e jamais alterada. Não interessa se você interpreta a música como pejorativa ou não. É como querer queimar as fotos do Holocausto. E foi o que Rui Barbosa fez com o registro da nossa história e é o que vc faz quando deixa de cantar QUALQUER música por um julgamento seu. Moralismo JAMAIS!



    Portanto como diria meu pai "Quebá la mi como gê, MACACO!!!, pega esse nego e arrebento, pego esse nego e sangro, pega esse nego e mato", para não esquecermos da nossa história.

    Abç e muito axé.
    Fabio

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  6. Concordo com o Fábio. Não se pode passar uma borracha na história. O preconceito tem que ficar vivo na memória, através de todos os registros, para que não volte a acontecer. A reflexão é sempre bem-vinda, mas a arte tem sua licença poética.

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  7. Acho que essa discussão é extremamente interessante e importante, por isso eu vou expor minha opinião sobre a questão, acho que concordo, em geral, com todas os pensamentos deixados, se por um lado parar de cantar essa e outras músicas significa pararmos de transmitir um preconceito (o que é o correto), por outro se continuarmos a canta-las iremos denunciar o machismo e o racismo (o que é mais correto), mas não estamos denunciando nada cantando do jeito que está, para fazermos isso é necessário que alteremos essas músicas (não sei se é possível fazer com todas, mas melhor uma do que meia dúzia).

    Para fazer essas alterações é necessário estudar não só a música, mas também o contexto, obviamente, pegando o exemplo do corrido Queba lami como gê, dificilmente vamos conseguir fazer uma denúncia acrescentando, retirando ou mudando coisas tanto no coro como no que chamo de parte fixa (que é a parte do corrido que é sempre repetida pelos cantadores e não é algo improvisado, nesse caso "queba lami como gê" e, talvez, "quebra coco de dendê"), o ideal a ser feito é acrescentar uma introdução que dê um contexto de denúncia para a música, eu idealizei o seguinte (deixando claro que quem é compositor se achar necessário mude e melhore a letra):

    Eu estava socando o pilão
    Pra farinha de milho fazer
    Farinha de milho
    Pra bolo o sinhô comer
    E o que sobrasse, angu fazer
    Pra meu bucho encher
    E mesmo assim...
    O sinhô olhou pra mim e falou
    Macá
    Queba lami como gê

    Coro: Macá (Macaco ou Eh macá)

    Queba lami como gê

    Coro

    Para quem quiser saber mais do contexto por trás dessa música eu tenho um vídeo no meu canal Papo com o Grilo (Queba lami como gê - Sobre a alimentação dos escravos), que é onde posto as lives que faço toda quinta-feira iniciando as 20h no facebook, inclusive Glauber tenho um vídeo chamado Corridos de capoeira - Sincretismo e sua influência na capoeira, no qual falo sobre, entre outros corridos, Santo Antônio é protetor, como não conhecia as versões que você citou, não apresentei elas, mas creio que seja por uma consequência da transmissão oral que acaba por alterar a letra das músicas, já sobre preconceito nela, eu não percebo, vejo apenas o sincretismo.

    Agradeço ao mestre Moraes por fazer essa postagem, pois ela me fez perceber a necessidade de fazer um vídeo sobre a alimentação dos escravos e não ficar apenas no que as palavras do corrido falam, mas sim ir atrás do real significado dele.

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