26 de abr. de 2009

A estética no jogo da Capoeira Angola

Falar de estética no jogo de Capoeira Angola é trazer à baila uma discussão sobre o que é belo e o que é feio. Etimologicamente, a palavra estética vem do grego aisthesis que dentre outros significados quer dizer também "percepção totalizante ", daí o erro daqueles que querem ver a beleza analisando só o exterior do objeto sabendo-se que a beleza é subjetiva.
O cognocentismo cartesiano é de pouca valia na questão do que é belo ou feio, mas a sensibilidade artística não deixará sem resposta o curioso.
O verdadeiro " angoleiro " não tem, em nenhum momento, o interesse de tornar " fácil ", para os observadores do "jogo", a interpretação dos seus movimentos mas exigir atenção especial para o universo cênico da Capoeira Angola. O " bailarino " traduz sua emoção sem se preocupar com uma estética pré-estabelecida mas com movimentos instintivos, através dos quais vai mostrando para a platéia sensível o que tem a exprimir. A expressão da força criadora do capoeirista angoleiro atinge sua plenitude quando acontece a íntima fusão entre a expressão e a forma associadas ao feeling.
A forma da Capoeira Angola é própria, o que eu chamaria de forma deformada para uma comparação com a forma objetiva racional. Daí, a Capoeira Angola não ter forma definida dentro do juízo objetivo, mas sim, subjetivo.
Só observará estética na Capoeira Angola, aquele que entendê-la como arte de homem, que um dia foi livre e naquele momento seu referencial primeiro foi a natureza, representada por todos os seus elementos, os quais já são estéticos na sua essência.
"Ninguém joga do meu jeito ", dizia Mestre Pastinha em sua singular sabedoria enquanto angoleiro que foi, o que significa dizer que na Capoeira Angola o belo e o feio se confundem com o objetivo de criar arte sem fragmentação.

Mestre Moraes

10 comentários:

  1. Acredito que essa natureza subjetiva que caracteriza a Capoeira Angola é o que permite que dentro dela existam vertentes tão diversas que acabam criando essa forma deformada, tão complexa, que suas vertentes não tem começo nem fim. Acredito que devemos sempre procurar aprender, refletir, ouvir, sentir e ser parte do diálogo infinito que existe entre as vertentes dessa forma deformada.

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  2. ( Moraes, parabens pelo 'jogo' postado! )

    Armando, vou manejar na 'tua volta'..., e, comprando com vc no 'movimento' que delineia o objetivo dum subjetivo () do texto que refere aa capoera angola. Pois ao se querer avaliar e definir na vida, gingando com o que objetiva a definicao e aplicacao (na ACAO!) da Capuera, na sua amplitude, do Ritual & da Luta, na arte das formas fisicas inclusive que improvisamos, e nas vertentes que aparecem, e tem fim, eu diria que ninguem ginga como ninguem, pois, somos todos diferentes, mas, somos parte do mesmo padrao - social.

    Pois, Capuera-se na Vida, e nesta existindo 'formas deformadas' (inclusive, fisicas!), do que o 'criador/a' realizou pra gestao de sua roda. --- Capoera eh a Vida, expressamos.

    Entao o que eh ilimitado e tem fim com comeco nois denominamos de 'capoera angola -- isso eh uma coisa subjetiva, mas, temos que se sentir objetivos, identificados, senao, nos perdemos no 'jogo' -- pra viver.

    A natureza objetiva da Capoera Angola pode permitir entao o funcionalismo das vertentes?! E vice-versa?!

    Por aih, quem seria entao o 'verdadeiro angoleiro'? --- Pergunta-se inclusive na parte da situacao que pode gerar um conflito entre quem seria o "verdadeiro deus/a" que criou a Roda, e a vida?~! -- Quem seria entao o 'verdadeiro homem'?!

    Concordo que " devemos procurar aprender, refletir, ouvir, sentir e ser parte do diálogo infinito que existe " ; Senao, acabamos sem ter uma 'volta' que nos leve a um principio que gera o comeco do que muito as veses subjetivamente se pensa ser o fim: A Morte --??!

    Desta forma, quica, subjetiva de gerar na vida, a Capoera com uma objetividade entao se cria, apesar de junto se morrer com as vertentes... ! ? ^

    Bom, gostei da visita, e, me senti motivado pra dar essa volta.

    Axe'!

    Mestre Jeronimo - 'Iconoclast JC'

    www.myspace.com/mestrejeronimo
    http://br.geocities.com/jeronimocapoeira/

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  3. Gostei da tua forma de expressar as diferentes relações entre começo e fim, subj e obj....nos leva a ver as coisas desta vida de todos os lados e angulos possíveis!

    Na minha forma de ver a questão que vc mencionou acima.... a complexidade tão grande dessas infinitas vertentes que formam o universo da capoeira dentro da nossas mentes, almas e espíritus nos leva a desenvolver um foco maior, um estado de alerta maior enquanto ao que nos rodeia...enquanto ao que fazemos das nossas vidas e a forma em que fazemos as coisas que compõem as nossas vidas....

    Parece contraditório dizer que dentro de uma arte tão rica em subjetividades, existe um processo disciplinar tão extenso que afeta todos os seus participantes assíduos, de forma que quem enxerga essas vertentes e tenta ser parte delas de forma responsável, ao mesmo tempo se torna uma pessoa mais focada, mais objetiva no que diz respeito a seu estilo de vida, organização, disciplina e responsabilidade...

    É como olhar para uma floresta selvagem, cheia de todos os tipos e tamanhos de plantas, árvores, pedras, animais, etc....e conseguir achar uma ordem predeterminada em tudo isso..

    Nos faz lembrar que o mundo vem funcionando de forma perfeita há milhões de anos.... sem precisar de areas de proteção ambiental, zoológicos, etc..

    Da mesma forma que acontece no jogo na roda, acontece no jogo na roda do mundo...

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  4. Aos hidrofobos.

    Ja foi aceita a relacão entre o jogo de capoeira Angola e o movimento que a água pode realizar.Mas infelizmente algumas pessoas são impermeáveis,apolares,portanto incapazes de ver e perceber beleza na forma amorfa do jogo.A estética do jogo e protudo de pura naturalidade.

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  5. A água toma a forma do rio
    Como o trem torma a forma dos trilhos
    Como os trilhos tomam a forma do Caminho
    Como o caminho toma o rumo das cidades
    Capoeira tem estação!

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  6. David disse...

    O mestre ensina que o corpo fala. Quando jogamos expressamos o que estamos vivenciando em nosso cotidiano. Acredito que a estética na Capoeira Angola é o resultado do diálogo de corpos, onde a verdadeira beleza está na originalidade da experiência e sabedoria dos jogadores. No vídeo número 1, dos melhores momentos do mestre Moraes, podemos notar fortemente esse aspecto
    David

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  7. Neste caso, eu prefiro ver a capoeira como sendo o próprio trem, pois só ele que tem o poder de passar por cima de todas as estações que colocam barreiras frente à verdadeira função da Capoeira Angola.
    Em relação ao outro texto, Mestre, fale um pouco mais, mesmo que metafóricamente, sobre o transe na roda da capoeira.

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  8. Barreira é fim de linha!
    Onde tem estação tem caminho...
    Trem sou eu que preciso dos meus mais velhos, únicos pontos de ligação possível com os meus ancestrais...
    Capoeira é o rio, é o mar, é o oceano. É o que dá forma a toda essa água, acalmando-a quando é certo acalmá-la, revirando-a quando é preciso reviá-la.

    Mas também não é nada disso... É e não é! Está sendo aqui...

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  9. Vamos, então, Leonardo, pensar de outra maneira... De que forma nós podemos ver todas estas pessoas, pelo mundo a fora, que se dizem serem detentores de uma materializada ligação ancestral e, na realidade, só sabem usurpar o nome de Mestre Moraes? Não podemos atribuir a eles a metáfora de barreiras?Barreiras no sentido de serem objeto de discussão, de questionamento?
    Assim como Capoeira Angola é muito mais do que aquilo que pensamos que ela possa ser,ligação ancestral não é uma coisa que se adquire de uma noite para o dia, ou em alguns meses...
    O próprio Mestre Pastinha não falou que seu fim é inconcebível ao mais sábio dos capoeiristas?
    Felizmente, temos, aqui, M. Moraes para intermediar nossas apreensões!

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