Hoje em dia, apontar quem é angoleiro ou não, é estar pisando em areia movediça. Principalmente depois que o conceito do "ser angoleiro" ficou limitado a estereótipos que não são nada mais do que uma atividade circence ao som do berimbau, dando-se ênfase ao contorcionismo e às caretas. Daí, diante do elevado número de "angoleiros" que acreditam ser essa a característica única da capoeira angola, qualquer observador mais atento que chame a atenção para tal tipo de comportamento será levado à fogueira da inquisição. Já foi dito: a maioria sempre vence, mesmo que as idéias sejam baseadas num corporativismo irresponsável. Por isso, tenho preferido ater-me à discussão quanto ao que é ser capoeirista ou jogador de capoeira.
Conceituando, o capoeirista deve estar em condição de jogar na roda e na vida, enquanto o jogador de capoeira só está apto a jogar na roda.
Os símbolos, utilizados na roda de capoeira, são de pouca valia no jogo que enfrentamos diariamente no macro-mundo, caso queiramos ver a roda de capoeira como um micro-mundo, apesar de tantos elementos objetivos e subjetivos que a compõe.
A moda do "ser angoleiro" é, antes de qualquer coisa, um desrespeito àqueles que se fizeram capazes de ficar na história e nos servem, até hoje, como referência. Conseguiram, se utilisando dos elementos não palpáveis, confundir a sociedade que tinha e continua tendo um projeto voltado para a sistematização da capoeira e seu consequente controle.
Limitar a capoeira angola a essas efemeridades externas é dar suporte aos poderes, ditos organizados, para, tomando essa maioria imediatista como referência, decidir o que é ou não é capoeira angola.
Urge reconhecermos que a dificuldade para se chegar a um "denominador comum" entre os capoeiristas, nos moldes pensado pelo governo, é consequência dessa variedade de elementos subjacentes nunca entendidos pelos "de fora " daquele grupo identitário. A muitos interessa ver a capoeira angola como uma manifestação que possa ser praticada ou ensinada por qualquer pessoa, independente da necessidade de ter que aprender com alguém de reconhecida experiência. Quem teria a condição de reconhecer um angoleiro de verdade ou de mentira? Só para reflexão, utilizar-me-ei da seguinte metáfora: só quem realmente estiver em transe reconhecerá a condiçao de transe do outro.
Mestre Moraes.